Psico-Socializando por Henrique Weber
Balneário Camboriú
Havia uma casinha branca com um parapeito azul claro, um tanto desagastado, fechada, parece que com o intuito de se proteger do tempo. Lembro que eu tinha por volta de quatro ou cinco anos de idade, e percorria a pé ao longo desta propriedade. Estava passeando pela avenida Atlântica, e esta casinha estava ali como quem via passar os transeuntes, e eu media com os meus olhos seu terreno, aquele capim que gramava a baixinha duna, espécies já em extinção na época.
Esta casinha, murada por quatro ou cinco tijolos de altura, encoberta por uma massa de cimento de cor branca, e um portãozinho inofensivo corroído pela ferrugem, abrigava dois campinhos de futebol de extensão. Sua duna coberta de capim-grama trazia ondulações que não devia em nada aos jardins franceses. Ali, se podia colocar uma trave ou mesmo quatro tijolos pra golzinhos. Após passar pela esquina da propriedade, despedia-me, e começavam os prédios de quatro a seis andares, e dali em diante, não se via mais uma casinha como aquela. É claro que casas ainda existiam aos montes na bela Balneário Camboriú dos anos 80, mas com dunas em frente à praia, eu não me recordo de outra.
Esta memória me faz pensar sobre as minhas raízes. Ela está muito mais cravada nestas areias do que na cidade operária de Joinville, onde nasci. Quando eu me mudei para Brasília, por volta de 1985, eu tinha cinco anos, e todos os anos vínhamos para a casa de praia, uma casa coletiva da família. Agora, escrevendo de um dos pontos mais visitados de BC, o pontal da Barra Sul, percebo que minhas origens é daqui. Esta é a cidade que posso dizer que é a minha natal.
Mas, o que me fez pensar assim é uma coisa sui generis. As pessoas amam ou odeiam Balneário Camboriú. Ela é o desejo de muita gente, seu agito, pessoas nas ruas cruzando de loja-em-loja na avenida Brasil, ou atravessando a faixa de pedestre para colocar o pé na praia, ou seguir pelo calçadão, são muitos turistas tirando fotos, selfies, para postar nas mais diversas redes sociais, famílias fazendo a sua rodinha de gente, jogando bola, sorridentes, em êxtases. Mas, há quem não gosta, ficam assustados com o amontoado de prédios que competem uma corrida vertical, uma sensação de se sentir emparedado pelas ruas vicinais, fila de carros, mar poluído. Eu concordo com os dois tipos de turistas (em BC quem manda é o turista) e entendo que muitos não querem mais voltar, ou que muitos queiram comprar uma unidade aqui para vir todos os anos. Tudo isto não move a ideia que tenho daqui, a paz daquela casinha branca com o parapeito azul a tomar raios solares em sua baia. Eu me sinto imune a lovers e haters, porque Balneário me deu a matéria-prima de sonhos realizados e bem vividos. Meu afeto percorre as numeradas ruas pela tobata graúda que chamamos de Bondindinho, o Hotel Fischer, o Marambaia, o futebol de areia, a bocha, os quiosques, a praça Tamandaré, a Ilha das Cabras, a Terceira Avenida, o Baturité, o Camelódromo e a companhia de nuestros hermanos argentinos.
Mesmo o turismo capitalizando os espaços públicos, privatizando e transformando em opções para o turista sonhar e levar recordações daqui, eu fico à margem desses sempre-novos peregrinos. Antes, eu conhecia muitos deles, porém, hoje, são milhares todos os anos.
É por causa desta invulnerabilidade e meus quarenta e cinco anos e onze meses que passo “férias” aqui é que percebo hoje que Balneário Camboriú é minha verdadeira terra natal. Não sei se fui eu que escolhi ou foi ela, mas não posso mais fugir dessa paixão. Balneário Camboriú completa 61 anos agora em julho de 2025.
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